segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A coragem que perdi


É tão bom te ver de novo, sabe, eu andei pensando em você. pensando no quanto você sabia dar valor a cada gota de chuva que caia e como eu gostava quando você me fazia rodar com você, você levantava o rosto pra observar o céu, o céu tava sempre cinzento mas seus olhos brilhavam, eles tinham, uma cor diferente, eu juro que eles reluziam a luz do sol, mesmo que ela não estivesse lá nunca, eu gostava de ver as gotas baterem na suas bochechas rosadas tão calmamente, e o quanto seu beijo ficava doce, só porque você amava a chuva e o cheiro que ela trazia, e eu ficava com frio, morria de medo dos trovões, você achava um jeito da música da sua doçura ultrapassar todos os sons e de repente eu só te via rodopiar.
Um dia eu criei coragem e te puxei da cama pros meus braços, eu tinha coragem porque de algum jeito ela vinha toda de você, você sabia o quanto eu amava os solos de guitarra, e como eu tinha aprendido só pra me mostrar, porque eu queria toda aquela fama de whiskey num backstage com meus amigos, então por mais que os trovões ressoassem como pés gigantes massacrando a cidade toda, estava você nos meus braços, dançando naquele temporal, a música lenta com solos macios e o cheiro de chuva misturado com meus pés gelados, ah pequena, como eu gostava de te por sobre meus pés, porque eu te deixei ir? Porque a nossa música lenta teve que terminar? Eu deixei meus dedos em sangue, porque além do meu coração você levou embora minha palheta preferida, e não fazia sentido tocar um solo macio sem minha palheta, nada era doce sem você, você foi embora e junto levou minha vontade de viver.
Só me resta cobrir a cabeça pra fugir dos trovões e do vento que ressoam sua risada tão deliciosamente, só me restam meus hollywoods amassados no bolso do jeans que você rasgou porque dava um ar mais rock n roll, me resta a saudade.
Agora eu estou aqui, olhando aquele nosso retrato que era pra ter ido embora com você, mas você deixou pra trás, junto com a saudade, lembrando em como foi ver você correndo e entrando na sua cafeteria preferida pra fugir da chuva no caminho que eu trilhava sem você, estou aqui, escrevendo uma carta, que pateticamente eu nunca vou te enviar, lembrando da última frase que você me disse antes de partir: a chuva não vai ter beleza, não sem você. Você correu pra fugir da chuva e eu corri pra fugir de você. Estranhamente, era pra ter sido o contrário. Carta queimada.





                                                                                                   

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