segunda-feira, 18 de julho de 2016

A casa está vazia.




Você não mora mais em mim. Ontem a casa ficou vazia e eu nem senti a sua falta. No almoço de domingo, também não. Meu tio sussurrou alguma coisa sobre você e seu paradeiro, eu apenas sorri e disse: o de sempre. Ele tem algo melhor pra fazer! E graças a Deus por isso. Com a vontade de insistir em nós reduzida a pó. Porque é preferível estar  de fato só, do que se sentir só ao lado de alguém. Quando compreendi isso, parei de dar murro em ponta de faca. De nos colocar no lugar dos personagens dos filmes água com açúcar que eu era obrigada a assistir, enquanto você priorizava seus amigos, seu time, sua cachaça, seu egoísmo. E me deixava com as histórias que me faziam refletir sobre a tal reciprocidade na nossa relação. Eu percebi, que o interesse, o carinho, o cuidado, devem ser mútuos. Só assim pra dar certo. Mas a gente não falava a mesma língua quando o assunto era fazer dar certo. Uma pena. Eu quis tanto que a gente fosse uma história bonita, daquelas que dá orgulho de falar sobre. Eu fiz a minha parte. Na verdade, eu fiz muito mais do que cabia a mim fazer. Eu nos coloquei nas costas e sai carregando, até onde aguentei. Eu me fiz de cega pra não ver o que suas atitudes me confirmavam todos os dias, e tava mais na cara do que nariz: você não me amava. Embora negasse, sempre. Dando explicações vagas e sem sentido. Se contradizendo quanto ao que dizia e o que fazia. Pondo a culpa no seu jeito, na falta de jeito pra relacionamento, na dificuldade de lidar comigo, porque as vezes eu parecia meio confusa em relação aos meus sentimentos. Como se você não fosse sempre, em relação aos seus. Sendo hipócrita e ignorando suas falhas. Sua apatia. Me fazendo acreditar, por vezes, que o erro estava em mim. Talvez eu fosse mesmo antiquada em alguns aspectos. É necessário que a gente se submeta a algumas coisas de vez em quando, afinal, o amor sem sacrifício, é mero sentimentalismo. “Foi você que disse meu amor.” Como se já não fosse cruel o suficiente me deixar amar sozinha, você usava minhas verdades pra me persuadir a fazer suas vontades. E ainda assim, eu lutei por nós até a última gota de suor, contrariando a razão,  porque acreditei firmemente na mudança que Deus faria na sua vida. E só ele sabe o quanto eu me empenhei em minhas orações. Mas o empenho maior era obrigação sua. Porque o livre arbítrio é seu e Deus não o tiraria de você pra realizar a transformação que eu tanto esperava , a não ser que você quisesse. E você não quis. Mesmo sabendo que o nosso futuro dependia disso. Você estava ciente que eu não me submeteria a mais nada que violasse os meus princípios. Sabia que meu amor próprio implorava pra eu desistir de uma vez por todas dessa história mal resolvida que desgastava e fazia sumir quem eu era antes de te conhecer. Eu me tornei você. Da cabeça aos pés. Como se nunca tivesse existido por conta própria. A vida só tinha sentido, se tivesse você. E isso me levou ao precipício. Ao precipício que é extinguir quem se é, pra ser quem o outro espera que a gente seja. Desistir da gente, pra dar espaço pro outro. Quando ele não merece nem aquele espaço vago, aquele oco na nossa vida. Não vale a pena, abrir mão de si mesmo, pra se encaixar no padrão de pessoa certa do outro. Seja quem for. Você se foi, já não mora mais em mim.  E desde que eu te perdi de vista, eu tenho sido quem eu sempre quis. A casa está vazia agora. E eu me arrependo de não ter preferido ela assim antes. Porque eu sou melhor sozinha do que acompanhada por alguém que nunca esteve de fato, do meu lado.

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